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Dr André Macedo S. Silva, médico e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e neurologista da Funcionalitá
Os opioides são uma grupo de medicações utilizados para dor aguda e crônica. Alguns exemplos dessa classe de remédios são a morfina, codeína, tramadol e oxicodona. Mas apesar de eficazes para vários tipos de dor, já se sabe com bastante confiabilidade, que essas medicações não são eficazes para tratar enxaqueca, sendo contra-indicadas em diversos consensos e publicações científicas, de importantes sociedades de neurologia em todo o mundo.
Entretanto, um dado alarmante, apresentado na reunião da Sociedade Americana de Cefaléia (American Headache Society) de 2019 é que essas medicações são prescritas em cerca de um terço das vezes, para pacientes, como primeira escolha em pacientes com enxaqueca, principalmente para pacientes jovens em unidades de pronto-atendimento.
Essa prática comum de se prescrever tramadol (tramal) ou morfina (dimorf) em pronto-socorro para pacientes com enxaqueca não é aconselhável e já se mostrou maléfica, pois não melhora a dor, aumenta desnecessariamente a estadia da pessoa no pronto-socorro (que não é um lugar agradável pra quem estar com dor de cabeça forte, certamente), além de causar efeitos colaterais, como risco de dependência, sonolência excessiva, náuseas, vômitos e até piora da enxaqueca.
Assim, o treinamento dos médicos que trabalham nos pronto-socorros é extremamente necessário para o correto tratamento das crises de enxaqueca. Estar atualizado, com as diversas opções de tratamento, é fundamental para o médico que trabalha atendendo pacientes com dor de cabeça. Porém, o mais importante para o paciente que sofre com dores de cabeça recorrentes, sem dúvidas, é uma consulta cuidadosa, com um neurologista, para instituição de medidas não medicamentosas, e talvez medicamentosas, que sejam realmente efetivas e, permitam a redução das visitas ao pronto-socorro. O pronto-socorro não é o melhor lugar para se tratar a enxaqueca.
As opções de tratamento são muitas e a chance de melhorar a qualidade de vida é grande, com o adequado tratamento da enxaqueca, mas o uso dos opióides não costuma ajudar nesse objetivo.